

TERAPIA VIDAS PASSADAS
Dr. Morris Netherton
Tradução de Herminia Prado Godoy
Mitos sobre a Terapia de Vidas Passadas
"Indo fundo demais", ou "ao lugar errado", ou " não posso ver nada" são alguns dos medos expressos por clientes no princípio de regressões de vidas passadas. Eles indicam uma crença subjacente, por exemplo, de que "nada pode ajudar". Eles são muitas vezes sobrecarregados ("fundo demais") pelas experiências diárias; nunca estão num relacionamento ou num trabalho adequado ("lugar errado"); nunca conseguem encontrar uma solução para os problemas diários ("não posso ver"). estas crenças e os medos por elas criados bloquearão o movimento para dentro e através do trauma de experiências de vidas passadas e da vida presente. Dirigir-se a estas crenças e medos, primeiramente na terapia, iniciará movimento no processo e na vida dos pacientes. Estes medos são criados pela falta de compreensão das fontes conscientes e inconscientes.
Os medos de "ir fundo demais" são atingidos ao se acessar o trauma de vida passada o qual os originou. O terapeuta deve deliberadamente dirigir a sessão para ir "fundo demais" se houver indicações de que esta crença existe. A sessão é feita de modo experimental usando-se tanto a mente consciente quanto a inconsciente. A mente inconsciente localizada e permanece centrada na experiência passada, enquanto a mente consciente mantém os limites e permanece ancorada na comunicação com o terapeuta. Previne-se que o cliente fique confuso e perdido na crença de que seja possível "ir fundo demais rápido demais".
Estas crenças são sempre parte do problema apresentado, originário no trauma de vida passada, e nunca são tidas como reais na experiência da vida presente. O terapeuta precisa "mandá-la de volta para de onde veio".
Uma terminologia que utilize as expressões "guias", "guardiões", "luz branca", "mestres", para citar alguns, é parte de conceitos metafísicos que injetam "pensamentos mágicos" no processo de resolução. Este é outro mito que não tem lugar na terapia. Ela diminui a aceitação do cliente da responsabilidade, e encoraja a dependência de uma fonte ou criatura externa "mágica". O primeiro objetivo da terapia é auxiliar o cliente a se tornar uma pessoa completa, inteiramente responsável em controle de sua vida diária. Ao fazer isto, o terapeuta deve manter a coisa simples (K.I.S.S. = keep it simple) mantendo-a centrada no cliente.
Influências passadas na atualidade
As experiências incompletas de vidas passadas precisam ser completadas, à semelhança da genética, que cria a necessidade de completar o corpo físico durante os nove meses de gestação. Cada vida utiliza e constrói sobre as realizações de encarnações prévias, assim como cada mês de gestação se apóia sobre o desenvolvimento físico dos meses anteriores. Um adulto observando uma pintura feita no segundo ano primário verá um estágio anterior de desenvolvimento, e talvez possa se recordar do que estava sendo aprendido e de como crenças estava sendo formadas. O mesmo é verdade para as vidas passadas. Elas são parte de nós mesmos, envolvidas no processo de resolução e integração.
A terapia de vidas passadas acelera o completar a tapeçaria humana, através da liberação dos traumas que bloqueiam o caminho.
Um Processo Simples
Como processo centrado no cliente, uma sessão de vidas passadas é determinada pelas necessidades e habilidades individuais do cliente. A sessão utiliza técnicas que acessem os traumas inconscientes do modo mais eficiente, e os eliminem da vida atual. Uma sessão começa pela localização do trauma seja através de sensações físicas, emoções fortes, ou palavras e frases de impacto. O processo encontra palavras e lhes atribui emoções, ou encontra emoções e as põe em palavras. O impacto destas emoções e palavras é então encontrado no corpo físico. Uma maior percepção espiritual é sempre experimentada como resultado da mudança de medo e confusão para clareza e auto-compreensão.
Uma sessão reconhece a existência prévia de um estado alterado induzido na época do trauma passado original, e mantido ativo pela incapacidade da mente de completar estas experiências. A linguagem e as emoções destes incidentes anteriores servem como comandos pós-hipnóticos incrustados em diálogos atuais e desempenhados em comportamento atual. Uma vez reconhecidas na vida presente, elas são utilizadas para localizar o trauma de origem, e serão notavelmente ausentes da atualidade quando seu controle tiver ido embora.
Uma sessão começa com uma breve discussão do problema apresentado, como caminho para atingir o ponto onde se pede ao cliente que "feche os olhos porque você já está dentro da experiência onde iremos trabalhar". Não se faz tentativas de induzir um estado de relaxamento, pois isto é contraproducente para o reconhecimento pleno de um estado de trauma. Relaxamento e medo não coexistem nestas sessões. O que se segue é um exemplo da linguagem utilizada pelo terapeuta para aprofundar a sessão.
"A cena onde você se encontra agora contém as respostas de que você precisa nesta sessão... (1) diga as primeiras palavras em que você pensar, vindo de onde você está... (2) sinta a tensão física no seu corpo e conte-me qual a primeira posição física que coexiste com o stress... sentado, andando, deitando... reconheça onde você está quando você adquire consciência de sua situação... (3) conte-me a emoção mais forte a qual você reconhece conscientemente."
O modo primário de percepção tem importância aqui apenas como maneira de se determinar forças e fraquezas do cliente. As fraquezas de percepção serão abordadas como parte da terapia, assim desenvolvendo para o cliente um equilíbrio sensível, pensante e sensato.
Uma vez que o cliente corresponda, o foco é aprofundado e mantido por uma repetição de frases e sentença que conduzem através da experiência. As frases repetidas conduzirão ou emoções ou efeitos físicos. Uma liberação catártica é o objetivo deste procedimento, e será experimentada se o mesmo for continuado pelo tempo bastante.
Há uma estrutura de incidentes de vidas passadas que deve ser conhecida e utilizada pelo terapeuta para garantir a inteireza dos tópicos descobertos. A apresentação desta estrutura e as técnicas para seu uso requerem maiores detalhes do que eu possa fornecer aqui. O terapeuta utiliza esta estrutura para estabelecer limites experimentais que fornecem o fundamento necessário para esclarecer confusão e incerteza.
O conteúdo de experiências de vidas passadas é importante apenas na maneira como se relaciona com a época presente, e como revela as razões pelas quais o trauma ainda está vivo de modo inconsciente. Uma vez que o script tenha sido revelado, um processo será direcionado para localizar e apagar o trauma dos vários pontos de experiência. O trauma final a se esclarecido é aquele que ocorreu no momento de morte. Após todas as emoções, palavras, dor e confusão terem sido removidos da experiência completa, incluindo morte, a alma e fácil e livremente liberada do corpo. A resistência a esta separação indica que algum ligamento emocional ainda existe em algum lugar da experiência. A mente achará facilmente este ligamento e o liberará.
Uma vez livre do trauma passado, o cliente reconhece uma verdade maior sobre a experiência, e é guiado para "dizer e fazer agora o que você não podia dizer e fazer então. Termine com isso !"
Um ponto de identificação trazido da morte da vida passada é localizado durante a concepção da vida presente, e o processo de resolução é colocado no lugar para a continuação. Reforços adicionais são encontrados quando a mãe pela primeira vez reconhece a gestação de modo consciente. Isto acontece no segundo ou terceiro mês de gestação, quando sua reação é inconscientemente gravada pelo feto. Outro ponto vulnerável para o feto vem entre o sétimo e oitavo mês, quando as pressões físicas e emocionais sobre a mãe estão alcançando um pico de intensidade.
Durante a experiência do parto, o corpo sobrevive de maneira experimental aquilo que causou a morte na vida passada. Devido a esta sobrevivência, um padrão negativo de sobrevivência é criado como parte do script da vida.
O cliente é encorajado a alterar este script, resolvendo conscientemente estas experiências da mesma maneira que a experiência passada foi modificada.
Teorias
As três teorias de reencarnação atualmente prevalecentes refletem três posições culturais e sociais básicas. A primeira é a científico-agnóstica que nega a existência de um deus e de uma alma, onde a pessoa total começa como uma folha em branco no momento do nascimento. O comportamento humano é reduzido á função química do cérebro, pois isso é tudo que pode ser cientificamente provado. Como não há alma, não existe nada para reencarnar. As memórias de vidas anteriores são explicadas como "desequilíbrios químicos" ou como fantasia para realização de desejos.
A segunda é da escola filosófico-psicológica que acredita num inconsciente coletivo disponível a todos como uma fonte de memórias. Diz-se que as memórias de vidas passadas vêm deste conjunto de experiências, as quais são criadas por e disponíveis a todos.
A terceira teoria vem da escola terapêutico-religiosa que acredita que a alma vive muitas vezes sob forma física, e carrega memórias de vidas anteriores para cada nova encarnação. Acredita-se que as memórias se originam em vidas passadas, e que são de natureza factual.
Uma quarta teoria que está atualmente em desenvolvimento define toda a memória antiga como memória celular. As memórias são carregadas geneticamente através dos tempos e são, de fato, memórias de nossos ancestrais. O trauma pode ser atingido através do uso de memória corporal, que indica células como fonte parcial de memórias. Entretanto, existem emoções, insights, e alterações físicas que excedem em muito os limites de nossos ancestrais diretos.
Os clientes muitas vezes se referem a "filmes", "fantasia", "memórias de infância", quando duvidando da validade de suas sessões. Respondo a estas dúvidas com uma pergunta : "Se isto muda a sua vida, você se importa com a origem que tem ? "
O sensitivo como recurso
Desde o início de seu desenvolvimento, tenho insistido que a terapia de vidas passadas seja centrada no cliente e baseada em experiências. As primeiras técnicas por mim desenvolvidas direcionaram o cliente a uma experiência interna e externa inteiramente compreendida, com o objetivo de resultar em nova autoconfiança. Minha meta é estabelecer o Eu sendo tanto fonte como resposta.
Uma "leitura psíquica" de vidas passadas é uma fonte externa que encoraja a crença que o sensitivo tenha habilidades especiais não disponíveis aos clientes. As respostas ficam além deles e de seus próprios recursos. Isto não é diferente de pedir a um médico que "dê-me uma pílula que me cure". Assim como o corpo humano acabará curando a si mesmo, a mente humana conhece sua própria história e pode fornecer suas próprias respostas - uma "leitura" faz pouco para desenvolver a utilização por parte do cliente de recursos interiores e das habilidades para obter a autodeterminação.
Uma leitura psíquica que descreve uma vida passada real pode ser prejudicial ao cliente, pois a leitura não fornece um método de resolução. A vida passada descrita terminou na morte. Sintomas desta morte podem ser somatizados na vida presente do cliente. Pneumonia, abortos e depressão são apenas alguns de sintomas do passado que ocorrem na época atual quando não forem resolvidos em sua fonte.
Tenho tido diversos clientes individuais, que se desconhecem entre si, que tiveram "leituras" de um mesmo sensitivo ao longo de um período de diversos anos. Uma revisão destas "leituras de vidas" aponta temas idênticos ao longo de vidas basicamente idênticas. A minha conclusão é que a informação é influenciada e desviada pela realidade subjetiva do sensitivo. Poucas, se é que alguma, destas histórias tiveram impacto sobre o processo terapêutico.
Existe certamente um lugar para as habilidades do verdadeiro sensitivo. Eles têm se provado muito valiosos no trabalho da polícia, na localização de pessoas desaparecidas ou de objetos valiosos. Eles também são eficientes na libertação de uma alma que está presa à Terra após a morte física. É na área de crescimento e responsabilidade pessoal que eu penso que sensitivos sejam de valor limitado.
A religião como recurso
Encontro-me freqüentemente em conflito com os ensinamentos que grupos religiosos recebem de seus líderes. Isto é evidente pelas perguntas que me são feitas nas palestras. Aquilo que digo conflita com os dogmas obedecidos por estes grupos, e quase sempre sou desafiado a provar as minhas afirmações. Enfatizo que estou falando apenas a partir das minhas experiências de muitos anos de sessões, e deixo os ouvintes para reconciliarem as diferenças.
Penso que a abordagem religiosa da reencarnação seja na realidade uma religião que inclui uma adaptação da teoria da reencarnação, dentre diversas outras práticas espirituais acumuladas de grande diversidade de filosofias e teologias. Alguns grupos utilizam a reencarnação como crença viável, enquanto outras igrejas a consideram uma crença a combater, como maneira de induzir medo entre seus seguidores. A igreja católica e a maioria das igrejas protestantes fundamentalistas condenam a crença em vidas passadas como uma ferramenta de Satã.
Não há abordagem religiosa autêntica da reencarnação nos países do mundo ocidental. Isto nem sempre foi assim, como se pode ver em Orígenes, um sacerdote católico do século IV cujos ensinamentos podem ser encontrados nas bibliotecas da atualidade. Seus ensinamentos das jornadas da alma eram aceitos como parte da teologia da igreja, até que eles e seus ensinamentos fossem declarados anátemas e feitos inacessíveis ao público.
A tradição oral e tradições populares eram mantidos como assuntos a serem transmitidos de pai para filho na crença judaica. Finalmente, surgiu a Kabahla, ou registros escritos. Este é um documento admirável que apresenta um conjunto total de ensinamentos metafísicos, que podem ser estudados por todos. Mesmo esta fonte de informação é negada por muitos grupos judaicos, e muitos não sabem de sua existência.
A terapia como recurso
A abordagem psicoterapêutica das vidas passadas é utilizá-las como uma parte integrante de uma modalidade total. Seu emprego inicial é estender os limites da mente, e fornecer maior profundidade emocional e compreensão das experiências postas a descoberto durante a terapia.
A verdade objetiva destas experiências não é importante, pois é a realidade subjetiva do cliente que fornece o elo vital necessário para ganhar a liberdade completa do trauma.
As experiências de vidas passadas são acessadas como base para um medo inexplicável da vida presente. Uma liberação terapêutica destes traumas passados provê uma fórmula psicológica para a mudança, que pode ser utilizada ao longo de todo o processo de terapia.
Sofrimento autêntico e não-autêntico também podem ser denominados de resposta apropriada e de reações reestimuladas às situações da vida atual. Uma resposta apropriada refletirá a intensidade e seriedade da situação atual, livre de exageros e afirmações excessivas que indiquem uma reação exagerada. As reações reestimuladas ocorrem quando a percepção de ameaça ou perigo é muito maior do que aquilo que realmente existe. A super-reação indica influências de um trauma oculto, as quais distorcem a realidade. Muitas vezes, diz-se que as pessoas reativas estão "fora de controle". Um período de comportamento reativado é um momento excelente para iniciar uma sessão terapêutica.
Um terapeuta eficiente percebe que o reconhecimento da realidade do cliente é básico para uma mudança bem sucedida. A maioria dos clientes acredita viver num espaço de tempo linear. acreditando poderem "voltar no tempo" ou "aprofundar-se na experiência" ou "regredir a uma vida anterior". Os clientes precisam experimentar a proximidade das experiências inconscientes como um primeiro passo para as alterações em sua percepção temporal. Eles também precisam experimentar o "viver no aqui e agora", e como a memória altera esta realidade. A mente inconsciente reconhece todas as experiências como "acontecendo agora", até que a terapia separe o fato da memória. Uma vez que a mistura de sentimentos e palavras seja reconhecida como existindo juntos no tempo presente, é iniciado um processo de separação para alinhar as memórias com a vida presente.
Uma vez que um cliente se dá conta que a mente pode dar as respostas que resolvem todos os mistérios, o conceito de tempo deixa de ser um problema.
COEX e complexo são nomes dados a um conjunto de experiências que compartilhem semelhanças dinâmicas. Estas experiências são semelhantes a pérolas num único fio. Ainda que elas estejam ligadas por um cordão em comum, não há duas exatamente iguais.
As duas divergem basicamente no seu reconhecimento dos limites da experiência. Um complexo inclui esta vida presente, enquanto que um COEX aumenta os limites, para incluir nascimento, pré-natal e experiências de vidas passadas.
Tanto um complexo como o COEX descrevem a história dos estágios do desenvolvimento, durante os quais partes de experiências responderam ao trauma ao "se fragmentarem" ou "assumindo uma identidade" separada e à parte da experiência total.
Padrões repetidos como recurso
Uma cliente definiu uma "compulsão à repetição" quando respondeu a esta pergunta ao final de uma sessão : "Por que você veio de uma vida passada de horror e violência num campo de concentração, para o horror e violência de um pai alcoólatra nesta vida ? "
"Eu estava determinada a sobreviver ao campo desde o momento que entrei até após minha morte. A única maneira de sobreviver à experiência por completo era ir das ações de um homem insano (Hitler) que me matou às ações de outro homem insano (pai). Entretanto, desta vez a insanidade não irá vencer. Nesta vez irei sobreviver e sair com vida. A loucura de outras pessoas me matou antes, porém não desta vez."
A compulsão dela à repetição era na realidade sua determinação em sobreviver. Ela repetiu o abuso, medo e isolamento do campo na sua infância atual. Isto se repetiu diversas vezes até que ela pudesse reconhecer as diferenças entre sua vida presente e o campo. Ela encontrou o apoio de amigos carinhosos, e eventualmente da terapia.
Em segundo lugar, através da compulsão repetitiva mantemos uma posição em nossas vidas que é o melhor de duas escolhas muito ruins. Ir em círculos (repetição) em um mesmo lugar é melhor do que encarar medo e morte ao mover-se para a frente. "Enquanto eu repetir o que estou fazendo, pelo menos saberei que estou vivo."
Estes medos respondem bem a sessões intensas focalizadas na experiência do nascimento. A necessidade de repetir, mover-se em círculos, segurar-se, ficar preso, são todas sensações criadas durante o stress do nascimento. O uso de medicamentos é apenas uma das fontes de confusão e paralisia para o bebê e para a mãe. Isto pode criar a compulsão à repetição como maneira de remover a confusão como parte do script da vida total. Também faz da repetição uma necessidade, como parte de continuar-se vivo num lugar ruim. Neste exemplo, o lugar ruim é o canal de parto, onde drogas destorceram a realidade. Sessões que removam as drogas e estabeleçam um movimento contínuo do útero ao berço também estabelecem o mesmo tipo de movimento ao longo de uma vida adulta.
O karma como recurso
Em 1993, aceitei um convite para ministrar uma série de cursos sobre terapia de vidas passadas em Bombaim, na Índia. Muitos dos participantes eram sacerdotes bramânicos da religião hindu. Eu estava muito relutante em entrar em quaisquer discussões que envolvessem preceitos da religião deles. "Roda da vida", "karma", "níveis psíquicos da existência da alma" são todos tópicos sobre os quais apenas li em livros, enquanto eles os vivem como parte da vida diária. Tive sucesso falando apenas sobre aquilo que conheço - terapia. Durante o restante das demais conversas fiquei de boca fechada e ouvi.
Aprendi que a mente ocidental não tem um conceito que sequer se aproxime da verdade do karma. Não é um sistema de recompensas e castigos, nem se compara ao axioma chinês de que "colherás aquilo que semeaste". O Karma nunca é pessoal e sempre se liga à lei universal para o bem. Direciona a força vital da qual o espírito humano é apenas uma parte. O Karma é comparado à correnteza de um rio e o seu controle que tem sobre dois objetos nele flutuando. Ambos estarão se movendo na mesma direção genérica, porém cada experiência será determinada por tamanho e peso de cada objeto. Os objetos podem se encontrar às vezes, para depois serem carregados até lugares e experiências diversos.
Os líderes do grupo solicitaram que eu trabalhasse com um jovem de 18 anos porque ele havia confessado a eles seus medos da homossexualidade. Se descoberto pelas autoridades, o comportamento homossexual é punido com a prisão perpétua, sem julgamento e sem chances de ser libertado. Todo o grupo de amigos do jovem compartilhava seus grandes medos das conseqüências se ele não conseguisse controlar seus impulsos.
Quando direcionado para encontrar a causa da confusão sexual em sua vida atual, ele reviveu uma vida passada em que ele liderava uma tribo de homens enquanto eles atacavam e destruíam outras tribos. Os homens das outras tribos eram mortos e as mulheres feitas escravas. As únicas mulheres mortas eram aquelas evidentemente grávidas no momento do ataque. Estas mulheres deviam ser primeiro violentadas, de modo que o assassinato do espírito da criança não-nascida fosse seguido pela morte da mãe.
Meu cliente havia encontrado tal moça numa cabana, violentando-a brutalmente antes de esfaqueá-la até a morte. Quando ele estava parado sobre ela, de repente ele reconheceu a semelhança à sua própria jovem esposa. Ele estava paralisado enquanto pensamentos passavam pela sua mente em reconhecimento do que ele havia feito. Encarando o feto abortado coberto de sangue ele perguntava a si mesmo , "o que seria se esta fosse minha esposa ? "
Um de seus homens entrou na cabana para encontrá-lo imobilizado pela visão da jovem. Ele disse ao seu comandado, "nunca farei isto novamente. Jamais voltarei a ferir assim qualquer mulher. " Seu soldado percebeu isto como um sinal de fraqueza, e o matou, pois ele não podia mais liderar. Ele morreu repetindo sua promessa de "nunca fazer isto novamente".
O karma desta experiência envolveu o jovem, seu assassino, o bebê no útero, e a mãe do bebê. O karma os levará a experiências nas quais eles reviverão todas as posições e ações desta cena.
Quando dirigido para sua vida atual, meu cliente percebeu que seus sentimentos de homossexualidade eram uma maneira de manter sua promessa feita na vida passada. Fiquei sentado quieto enquanto ele ficou discutindo com os membros mais velhos do grupo sobre as suas descobertas. Eles utilizaram a linguagem e as referências de sua religião enquanto falavam, e não tentei entendê-los. Finalmente, vi um sorriso luminoso cruzar o rosto do jovem quando ele disse a mim, "Já chega! Cumpri minha promessa, e agora passou. "
A complexidade das explicações deles para esta experiência fez com que eu me retirasse, mas fazendo uma promessa para verificar o progresso do jovem a cada vez que eu retorne.
A estrutura cármica desta experiência estará totalmente perdida a qualquer um que não tenha passado uma vida de estudo dos ensinamentos hindus. Certamente causará apenas confusão, se introduzido no uso da reencarnação como terapia, tal como é feito no mundo ocidental.
O Corpo como recurso
Minhas sessões mais antigas revelaram a confusão do cliente como o maior bloqueio para se completar as experiências inconscientes. O cliente se perde em palavras e emoções que levam a um redemoinho crescente de imagens e a repetição da resposta "não sei...".
Uma vez que comecei a usar a realidade do corpo físico como âncora, a confusão não mais controlou a sessão A memória corporal não está sujeita à confusão da mente. A experiência do corpo continua literal a despeito de ilusões e "truques" da mente.
Os sintomas físicos que são parte de uma morte de vida passada são levados à concepção seguinte e re-introduzidos como parte do novo código de DNA. Durante as seis a oito semanas iniciais da gestação, as experiências da mãe irão fornecer os componentes emocional e verbal para o desenvolvimento físico de glândulas, órgãos, sistema nervoso, e de fato de todo o corpo. Assim, a afirmação da mãe, "minhas costas estão me matando, irão definir a formação física da coluna do feto, que então se conecta a uma morte em vida passada por enforcamento. Sessões durante este período inicial de gestação revelam o processo pelo qual a memória física é levada para esta vida.
O corpo diabético relembra morrer de inanição. Enxaquecas são memórias físicas e enforcamento ou golpes na cabeça. A esclerose múltipla é o resultado de memórias de mortes prolongadas em campo de batalha, com ferimentos que paralisam o corpo físico. Estas são apenas algumas das memórias corporais levadas da vida passada à encarnação seguinte.
O avanço mais recente em memória corporal vem nos achados de pesquisas de Dra. Candace Pert. Sua descoberta de centros receptores emocional e neuropeptídeos ligam mente e corpo como uma só entidade. Estes receptores estão incrustados em todo o corpo em localizações que vão do cérebro à medula óssea de todo o sistema esquelético, sendo comandados pelo DNA, o que posiciona a presença dos receptores na concepção. Os receptores servem como o mecanismo que regula a troca de informações emocionais no corpo.
"Este sistema de comunicação entre molécula mensageira (neuropeptídeo) e receptor celular é a base psicobiológica da cura mente-corpo, hipnose terapêutica, e da medicina holística em geral. "(Dr. Ernest Rossi, A Psicobiologia da Cura Mente-Corpo, 1987.)
Os achados de Dr. Pert e Dr. Rossi podem levar a uma reavaliação de algumas práticas desprezadas como charlatanismo pela medicina moderna. Estas descobertas comprovam que quaisquer emoções podem ser centradas e sentidas em qualquer local do corpo.
"Este sistema é a espinha dorsal da memória corporal, já que não mais há uma distinção forte a ser feita entre o cérebro, a mente, e o corpo." (Dr. Candace Pert,Massage Therapy Journal, outono 1987.)
A Medicina como recurso
Atualmente, o tratamento dos problemas ginecológico-sexuais das mulheres é um alto negócio na medicina. Histerectomias, lumpectomias, mastectomias, reposição hormonal, anti-depressivos e medicação para TPM são alguns dos procedimentos utilizados para tratar os sintomas destes problemas. Sem se darem conta, ao tratar apenas os sintomas, os médicos se tornam parte do problema. Toda vez que submetem sua paciente a cirurgias, lhe prescrevem comprimidos, deixam de dar ouvidos a ela, eles reforçam sua auto-identidade inconsciente como vítima. Se deixado sem tratar, o componente emocional de seu problema físico irá aumentar seus sentimentos de desespero e depressão. Inconscientemente, ela se tornará a vítima de todos. Sua polarização como vítima precisa ser abordada pela terapia.
Se a terapia for focalizada apenas em sintomas físicos, irá encontrar uma quantidade interminável de experiências de vidas passadas e vida presente, que revelam histórias de terror de estupro e mutilação como razões e explicações para problemas nesta vida atual. Resposta positiva a suas vidas é muitas vezes limitado a uma "melhor compreensão" e uma concordância em "aceitar coisas que não podem ser mudadas". Mudanças reais ocorrem quando a terapia confronta a vítima interior que controla o modo de vida.
A vítima como sobrevivente é parte do script de vida presente no nascimento. Sua fundação é complexa e resistente a mudanças. Se esta resistência for confrontada cedo demais ou com intensidade demasiada, a cliente pode sair da terapia por sentir que você, o terapeuta, está abusando dela.
Durante uma sessão de levantamento, interroguei a cliente sobre quaisquer gestações incompletas possíveis anteriores ao nascimento da cliente. Um aborto espontâneo ou provocado anterior pode ser uma causa enraizada de identidade como vítima. Muitas vezes o cliente é também a alma do feto abortado que retornou à mãe para uma gestação completada. Se isto for verdade, o feto abortado foi uma vítima indefesa. Quando concebida pela segunda vez, a alma promete à mãe "ser um bom menino/menina desta vez, se você apenas me deixar viver. Farei tudo que você quiser. Farei todo mundo feliz se você me deixar viver desta vez."
Quando o médico declara o bebé como "vivo e saudável", a promessa anterior agora se torna um modo de vida. Esta "boa menina" agora é a vítima da mãe, que precisa fazer todo mundo feliz.
A terapia muitas vezes modificará a identidade central de vítima para agressor. Neste pondo, amigos e familiares do cliente irão declarar a terapia um fracasso. "Não está funcionando. As coisas estão ficando piores. " O terapeuta precisa antecipar esta mudança e discuti-la com seu cliente antes que ela comece. As sessões precisam continuar a resolver esta postura de oposição no comportamento do cliente.
Tanto vítima como agressor precisam ser abordados em sessões, até que nenhum dos dois seja capaz de controlar o cliente. Uma nova posição emergirá à medida que as duas anteriores desvanecem. O cliente sente o papel do observador benigno crescer progressivamente, ao fazer decisões diárias e nas interações com amigos e familiares. Estando livre dos impulsos reativos, são feitas escolhas que refletem consideração para com o melhor benefício de todos.
O eu como recurso
Dentro das vidas de nosso eu, há muitas possibilidades disponíveis nesta criação de nossas personalidades. Estas personalidades não são resolvidas pela experiência, e são mantidas dormentes no grande armazém da mente inconsciente. Cada encarnação une a constelação de possibilidades que melhor avançarem a jornada da alma.
Um reconhecimento de nossas muitas identidades dá maior compreensão para as vidas daqueles em nossa volta, e mais compaixão para os seus problemas. Medo e preconceito baseados em cor da pele não mais são possíveis quando lembrarmos de nossas próprias experiências passadas com cores de pele que nos faziam "diferentes". Em vez de "fique longe de mim, você me assusta" , nossa mensagem para outros passa a ser "venha e deixe-me ajudá-lo. Sei como você se sente."
Completando vidas passadas
Nos meus programas de treinamento, longos horários de ensino e de supervisão clínica são passados com a estrutura, conteúdo e a completar experiências de morte de vidas passadas. Faz-se bastante esforço para reconstruir cuidadosamente a estrutura do trauma da morte, pois é importante ter clareza e resolução absolutos desta experiência. A não ser que esteja completo, ele pode continuar a interferir na experiência de vida atual de uma diversidade de maneiras.
A depressão é a experiência de vida atual mais freqüente a ser causada por trauma e morte de vida passada. Dor crônica e fobias são outras duas condições de vida atual que indicam uma experiência incompleta de morte passada.
É imperativo que as realidades interna e externa da pessoa moribunda sejam separadas, para identificar palavras e emoções de outros inseridos na psique e internalizados como parte da experiência total de morte. Momento real e local de morte precisam ser determinados para ter certeza de que nenhuma parte do trauma fique oculta e capaz de reativar toda a experiência na atualidade.
Muitos clientes vêm até mim com confusão e dor ainda em suas vidas após muitas sessões em terapia de vidas passadas em que outro método era usado. Muitas destas sessões ou ignoraram o trauma de morte, ou deixaram de trabalhá-lo completamente. Os terapeutas que não tenham experiência ou técnica para esclarecer uma morte muitas vezes resultam em "pensamento mágico" ou "processo mágico" , o que pode levar o cliente a dizer "estou morto". Quando isso for retrabalhado, os resultados encontrados literalmente serão os de uma "morte em permanência".
Após resolução e movimento livre fora do corpo morto, o cliente será direcionado a dizer e fazer o que quer que seja necessário para obter conhecimento da verdade de toda esta experiência de vida passada, Uma vez que a verdade seja conhecida, a experiência é completa e sua influência estará para sempre silenciada.
Uma Avaliação Honesta
Muitos dos limites da terapia e vidas passadas são determinados pelos limites do terapeuta. O terapeuta não será capaz de levar um cliente adiante neste processo mais a fundo do que o próprio terapeuta tenha ido. Um terapeuta pode atrair clientes que apresentam problemas similares aos assuntos não-resolvidos do terapeuta. Quando isto acontece, a confusão é persistente e o cliente aparenta resistente a mudanças. O terapeuta e o cliente dividem um problema, o que significa que há dois clientes e nenhum terapeuta naquela sessão.
O compromisso do cliente determina também os limites da terapia. Se reconhecido e apoiado pelo terapeuta, o compromisso pode fazer a diferença quando a experiência da terapia for realmente difícil. Esta terapia avança rapidamente e pode exigir mais coragem do que a terapia de "conversa", porém ela não opera milagres nem elimina a dor do processo de cura. Ela encurta o processo, e exige coragem por um período menor de tempo.
Esta terapia não é eficiente com aqueles que não têm habilidades para ouvir ou falar. Estes clientes trabalham bem com terapia que usa caixas de areia e brinquedos e jogos educacionais.
Há alguns anos uma cliente me ofereceu muito dinheiro para provar, numa sessão, que ela fora Cleópatra numa vida passada. Isto explicava sua falta de interesse em nossas duas sessões anteriores, já que a motivação dela não era terapêutica porém cosmética. Fiz de conta que entrei em transe e a "enxerguei" não como Cleópatra, porém como a víbora de Cleópatra. Ela não marcou nova consulta. Nenhuma terapia será eficiente quando o cliente tem tais motivações.
Uma realidade clara e atual
A terapia de vidas passadas reconhece e se baseia nas primeiras indicações do cliente de que há algo errado em sua vida. A descoberta de que "a coisa não vai embora sozinha" os leva à busca de ajuda.
Quando nos aplicamos a este processo de reconhecimento e mudança, experimentamos níveis diversos de realidade, geralmente precedidos por confusão. A confusão do primeiro nível é eliminada ao aceitar uma definição literal "de como as coisas são". Somos informados de que realmente morremos num campo de batalha; que literalmente fomos tanto estuprados como estuprador; que de fato fomos tanto vítima como agressor. Carregamos eventos reais em nossa longa história de experiências inconscientes.
A claridade volta a se tornar embaçada quando surgem perguntas sobre a realidade atual. Aqueles foram os eventos literais de nosso passado, as pessoas reais que fomos em vidas anteriores, mas e quanto ao agora ?
A confusão desaparece quando aprendemos como estes eventos e identidades do passado criam nossos eventos, sentimentos e crenças da atualidade. A lança no coração de ontem é reconhecida como o ataque cardíaco de hoje. A derrota de ontem no campo de batalha se torna o fracasso atual nos negócios. A morte prolongada por velhice do passado se torna o prolongado de depressão da atualidade, quando sentimos que algo de nossas vidas está chegando ao fim.
A medida que causa (vida passada) e efeito (manifestações de hoje) vão se alinhando, sentimos a ausência de confusão no presente, e nos achamos "em território desconhecido".
O que acontece agora é possivelmente o resultado mais significativo da terapia de vidas passadas. Nossas vidas presentes mudam quando vidas passadas felizes e produtivas substituem aquelas que causaram tais medos e dor antes da terapia. Estas vidas boas sempre estiveram lá, cutucando-nos sutilmente para que as procuremos e as deixemos se tornarem dominantes. Sem esta "cutucada" , as vidas passadas dolorosas não nos incomodariam, pois elas seriam tudo que jamais viríamos a conhecer. É esta : cutucada que nos leva à busca de mudanças na vida.
Um ser verdadeiramente criativo e espiritual evolui quando estas vidas boas trazem a pessoa total a um ponto em sua vida onde ela :
"possa parar de fazer coisas a nós mesmos e a outros porque temos que fazê-lo, e começar a fazer coisas conosco e com outros porque queremos fazê-lo."
© Cristina Fernandes