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SOBRE O AMOR E A FALTA DELE

É um tema recorrente em consulta. O Amor. Ou melhor, a falta dele.

 

Este é um mal comum a homens e mulheres.
Homens e Mulheres que amam demasiado...o outro.
Homens e Mulheres que se alimentam da falta de amor que recebem do outro para perpetuarem a falta de amor que têm por si mesmos.
Homens e Mulheres que consomem o outro sem nunca se sentirem saciados de amor.

 

É um ciclo vicioso. 
Carregamo-lo nas nossas células e nos nossos genes através da história dos nossos ancestrais familiares. Sentimo-lo quando ainda na barriga das nossas mães. Comprovamo-lo nos primeiros anos de vida quando absorvemos tudo o que nos rodeia sem filtros e sem a lógica causa efeito que só mais tarde aprendemos.

 

E depois, vida fora, validamos uma e outra vez o mesmo padrão, em diferentes cenários, com diferentes personagens e em posições diferentes...validamos a falta de amor por nós mesmos buscando a validação através do amor do outro. 
O amor do outro, ou nunca é suficiente e nós queremos mais, muito mais (amor que engolimos com voracidade e que desaparece nesse gigantesco buraco negro que habita no nosso peito); ou então, de facto, é tão inexistente que nós damos e damos e damos o que temos e não temos, e consumimo-nos naquele amor que damos e que não recebemos porque o outro o sorve sôfrega e incessantemente.

 

Num e noutro caso é gritante a falta de amor. 
A falta de amor por nós mesmos. 
Aceitamos, subjugamo-nos, fazemos de conta, olhamos para o lado, iludimo-nos. E continuamos.
Por vezes são coisas subtis, muito subtis. 
Ou somos nós que não chegamos, ou é o outro que não nos chega.
Queremos mudar o outro, ou o outro quer mudar-nos a nós.

 

Vamos continuando sempre na ilusão que o outro um dia vai corresponder ao que projectamos nele. Ou vamos continuando na ilusão de que um dia vamos corresponder á imagem que o outro projecta em nós. E falamos de amor quando é tão gritante a falta de amor. Num e noutro caso. Ambos são manifestações do mesmo padrão e por isso se atraem tanto. 

 

Por vezes esta pressão é muito subtil, tão subtil que quase passa despercebida a quem a pratica sobre o outro, há um desconforto e uma frustração...há uma permanente insatisfação. E é tão subtil que passa também despercebida a quem a sente e aceita, entrando no faz de conta que assim vai ser mais amado/a pelo outro. E faz-se sentir quer no campo físico, quer no campo mental, quer no campo comportamental: Insatisfacção/eu nunca sou suficiente.

 

Em ambas as situações, que convivem e são os extremos de uma mesma relação, o mesmo padrão. A falta de amor. 
Enquanto não mergulhamos na crueza dos nossos padrões, iremos irremediavelmente validar o mesmo padrão nas suas mais diversas manifestações. Ele está sempre lá, mais evidente ou mais camuflado...mas presente. E vai repetir-se até sermos forçados a olhá-lo e escolhermo-nos a nós. Escolhermo-nos a nós mesmos é observarmos esta dinâmica sem a alimentar, mas percebendo o que ela desperta em nós, aprendendo a afirmarmo-nos exatamente como somos. Com amor. Com amor por nós. E com amor pelo outro que, mais tarde ou mais cedo, lá chegará também.

 

E quando pensares que está ultrapassado, o padrão mesmo assim irá teimar em espreitar, só para testar se ainda te recordas da lição e para te fortalecer, pois a afirmação deve ser praticada para não ser esquecida.

 

Só quando vamos além daquilo que nos é evidente; só quando nos abrimos e disponibilizamos a encarar quem somos realmente, -escarafunchando com curiosidade mas persistência tudo o que acreditamos ser e saber sobre nós mesmos, - só quando questionamos com a curiosidade exigente de uma criança tudo o que se passa dentro de nós, é que começamos a lá chegar...
E só quando ACEITAMOS esta falta de amor por nós mesmos é que a LIBERTAMOS e nos MOVEMOS então, em direcção ao AMOR que somos.

Nota: A propósito desta temática costumo contar aos meus clientes a situação em que alguém um dia me perguntou porque é que eu pintava o cabelo de uma cor tão vibrante, que podia usar uma cor mais "normal"... eu que já tinha identificado anteriormente notas dissonantes no seu discurso, não pensei duas vezes...e ofereci-lhe a oportunidade de aprender a andar de patins.

r podermos agir.

 

​© Cristina Fernandes

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